No Posto Agrícola Matos Souto, na freguesia da Piedade, realizou-se, a nível regional, a III Terceira Feira Agrícola dos Açores nos dias 8, 9 e 10 do corrente mês de Julho. A Comunicação Social já deu notícia do acontecimento. Não interessa pois referir aqui os diversos painéis que constituíram a Feira. Importa, antes, dar o devido relevo a um evento de notório significado económico para a ilha e para os Açores em geral. Demais, várias Ilhas estiveram representadas em larga escala, o que não deixou de ter um significado muito especial, mormente quando ele se realiza numa ilha que parecia estar votada ao esquecimento.
E foi mais de enaltecer o local para a realização da Feira. “O Comendador Manuel Matos Souto, que deixou a sua freguesia de tenra idade, emigrando para o Brasil, onde fez fortuna, doou à mesma, generosamente, aí por mil novecentos e oito, apreciável soma de oitenta e cinco contos fortes, para construir e manter uma escola. Dizia assim o seu testamento:
“Deixo dez apólices da Dívida Pública de um conto de reis cada para aumento do património da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade onde nasci... e de uma quinta parte meu testamenteiro remeterá para a Ilha do Pico, para instituição, património ou manutenção duma Escola na Freguesia do meu nascimento”(A última oração está incompleta”
O Estado chamou a si o legado e, seguindo o parecer da Junta de Paróquia da Piedade, criou na freguesia uma escola agrícola móvel, com a denominação “Matos Souto”.
E continua Manuel Ávila Coelho, a que me venho de reportar:
“ Compraram-se os terrenos necessários à construção do edifício e ao bom funcionamento da Escola, depois de previamente escolhidos pelo Agrónomo Sá Viana, que para esse fim se deslocou à Piedade...” (l)
A casa foi construída, destinando-se o primeiro piso à escola e o segundo a habitação do agrónomo. E assim se conservou muitos anos, servindo apenas para habitação do regente agrícola que para lá era destacado, mas a escola, embora o recinto que lhe era destinado, estivesse devidamente equipado, nunca funcionou. Os terrenos eram cultivados mas desconheço o destino que era dado à produção.
Quando se deslocou aos Açores o Professor Marcelo Caetano para estudar, in loco, a situação das Juntas Gerais, assim encontrou a denominada Escola Agrícola Móvel Matos Souto. Daí resultou que o Estatuto dos Distritos Autónomos das Ilhas Adjacentes, que a seguir foi publicado, ficou estabelecido que a Junta Geral do Distrito da Horta podia alienar as propriedades Matos Souto e a transferir os serviços respectivos para a Horta.
“O Dever” e, depois, os jornais do distrito levantaram uma estrondosa campanha a favor a manutenção dos serviços agrícolas Matos Souto daí resultando a vinda do Director Geral dos Serviços Agrícolas que, visitando o Pico com larga comitiva, acabou por determinar que se mantinham as propriedades e nelas ficaria instalado um Posto Agrícola, dependente da Estação Agrária, criada na Horta. São decorridos setenta anos!
O Posto Agrícola passou a ser chefiado por um Engenheiro Técnico Agrário (antigo regente agrícola), e todos os que por lá têm passado hão procurado desenvolver os serviços, criando um quadro de pessoal que, além de executar os trabalhos de ensaios e experimentais dos produtos agrícolas, e melhoria das manadas, prestou durante muito tempo assistência externa aos proprietários agrícolas que a solicitavam. Durante vários anos chefiou o Posto Agrícola, Eng.º Tec. Agrário António Simas d’Azevedo, ao qual se ficou a dever o desenvolvimento dos Serviços além de ter contribuído com o seu dinamismo para o desenvolvimento da própria freguesia. Pena é que, nem ao menos o seu nome, conste de uma placa toponímica em qualquer rua ou canada da localidade. Verdade que no Salão Pe. Francisco Vieira Soares, se encontra(va) descerrada a sua fotografia.
Presentemente, os serviços são chefiados por uma Engenheira agrónoma, que tem igualmente a seu cargo a direcção dos Serviços Agrícolas, embora sedeados na vila da Madalena, por teimosia de um secretário que nunca olhou para a Piedade, com critério e isenção.
É pois de louvar o aproveitamento da herdade Matos Souto para a instalação da Feira Agrícola. Não existem muitos sítios na Região que possam substituir aquele maravilhoso espaço e as instalações que ali têm sido construídas.
Acompanhei, muito de perto, o gravoso problema levantado na década de quarenta do século passado e as personalidades que no caso andaram envolvidas, daí o testemunho que aqui deixo.
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1) Coelho, Manuel d’Ávila, “A freguesia de Nossa Senhora da Piedade na Ilha do Pico” – in Boletim do Núcleo Cultural da Horta, Vol.2-Nº3. pág.291 (Separata)
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